sábado, setembro 30, 2006 

Os "Tios" de Augusto Gomes (V) O "Peixe -Rei"

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Certa feita, o “Peixe-Rei” adquiriu na cidade, por uma tuta-e-meia,
uma grande porção de anzóis.
Depressa porém, se apercebeu do logro em que caíra,
pois que aqueles anzóis,
pelas suas características especiais,
não se adaptavam aos nossos processos de pesca,
passando a figurar,
como soi dizer-se, na gíria comercial,
um autêntico «mono».
Logo entrou a magicar no melhor processo para resolver o problema,
não tardando em encontrar a solução.
Ao lado da igreja, situava-se a venda do António Mendes, o maior comerciante da freguesia.


 
O «Peixe-Rei», durante uma semana,
entregava à garotada que lhe passava à porta um dos ditos anzóis,
com a incumbência de ir à venda do António Mendes, perguntar se havia iguais
.



Na semana seguinte,
dirigiu-se  o "Peixe-Rei" ao António Mendes
inquirindo se desejava comprara daqueles anzóis.
O comerciante, com base na lei da oferta e da procura,
 não se fez rogado, adquirindo o "stock" do "Peixe- Rei".

"Stock" que passou a figurar no inventário enquanto durasse o estabelecimento.


quinta-feira, setembro 28, 2006 

As "moralidades" do "La Fontaine Português" (2)

Continuemos com



e as suas conclusões "eternas",
que nem de fábulas necessitam
para serem "eternas":





segunda-feira, setembro 25, 2006 

As "moralidades" do "La Fontaine Português" (1)



Curvo Semedo é justamente reconhecido como um dos maiores fabulistas da literatura portuguesa.
Uma das características das fábulas de La Fontaine, que Curvo Semedo recriou para a língua portuguesa, são as sentenças de conteúdo moral que se pretendem extrair de cada fábula.
Em Curvo Semedo, estas "moralidades" têm um desenvolvimento singular que as torna independentes da fábula concreta a que servem de final.
Aí vão dois exemplos:





quarta-feira, setembro 20, 2006 

Os "Tios" de Augusto Gomes (IV) Tio Amadeu (II)

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O espírito jocoso do Tio Amadeu mais se evidencia com o episódio que passo a narrar:
Terminara o trabalho na Base Aérea 4.
Os funcionários portugueses do Destacamento Americano, aglomeravam-se, aqui e ali, aguardando os respectivos transportes.
Eis que surge Tio Amadeu, qual corredor romano de quadrigas, em esfusiante embaixada de alegria.
Então, um dos ditos funcionários, voltando-se na direcção seguida pela carrocinha, e, com o polegar a descrever um movimento de vai e vem, em suma, naquele tão peculiar e generalizado gesto «yankee», pediu-lhe boleia.
Sem vislumbres de atrapalhação,
antes pelo contrário,
com uma calma surpreendente,
Tio Amadeu,
com um semblante onde transparecia o pesar por não poder ser útil,
respondeu,
apontando com o chicote o garrano:


Já levo um.


segunda-feira, setembro 18, 2006 

Dos Venenos femininos e dos contravenenos(muito) masculinos.

Não obstante as suas boas intenções, Gomes Ferreira equivoca-se em interpretações de fenómenos, como no caso das panelas com leite, ou deixa-se levar, noutras ocasiões, pela fantasia, pelo preconceito ou pela superstição. Lê-se, por exemplo, no Tratado XI ("Dos Venenos", p. 474):

"O sangue menstrual das mulheres, estando no atual fluxo dele, é tão perverso e maligno que faz os efeitos seguintes. Os panos das suas camisas, aonde ele chegou, ainda que se lavem quinhentas vezes, se usarem deles nas feridas ou chagas as fará inficcionar e alterar, de sorte que serão muito trabalhosas de curar, por causa do mesmo veneno.

Se alguma mulher, andando com a conjunção, entrar na adega dos vinhos, os fará referver, azedar e turbar; e o mesmo sucederá no lagar ou cuba dos azeites, porque ficarão como leite; o remédio desta perda é tão fácil como ourinar-se-lhe (sic) dentro qualquer homem, que logo ficará como de antes, e é experiência certa

Source: Química Nova - A influência da Química nos saberes médicos acadêmicos e práticos do século XVIII em Portugal e no Brasil

Que remédio tão óbvio e barato!
O que a má "conjunção" feminina estragar,
só mesmo a boa "ourinação/ ourina/sã masculina pode curar!

sexta-feira, setembro 15, 2006 

Dos Danos do Leite

Era a seguinte, a curiosa opinião sobre  o leite, que, o reputado cirurgião luso-brasileiro, do sec. XVIII,  Luís Gomes Ferreira defendia na sua obra, O Erário Mineral: 

"O leite, sendo na estimação de muitos um bom prato, é na verdade muito prejudicial à saúde; porque a primeira cousa que faz a quem o continua, é tirar-lhe e extinguir-lhe a vontade de comer; a segunda é fazer obstruções, e introduzir flatos e outras várias queixas procedidas das tais obstruções; a terceira é introduzir más cores: queixas tão custosas de curar, como penosas a quem as padece; e para bem se perceber o que é o leite, façam a seguinte observação.
Quando mungirem as vacas, lancem sempre o leite em uma panela, e no discurso (sic) de poucas semanas vão ver a tal panela por dentro, e verão que, se for vidrada, estará o vidro em algumas partes comido, e no barro seus buracos; e se a panela não for vidrada, serão os buracos maiores; tudo procedido da malignidade dele...".

Luís Gomes Ferreira nasceu em São Pedro de Rates. Estudou cirurgia no Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa, onde recebeu carta de cirurgião em 1705. Viajou para o Brasil. Depois de permanecer algum tempo na Bahia, transferiu-se em 1710 para a região mineira, onde por duas décadas praticou a medicina e coligiu dados que usaria na composição de seu livro "Erário Mineral", publicado em 1735

 

Source: Química Nova - A influência da Química nos saberes médicos acadêmicos e práticos do século XVIII em Portugal e no Brasil

Nota: Curiosamente (ou não) trata-se do mesmo tipo de experiência que , hoje, muita gente recomenda para comprovar os malefícios da Coca Cola. 

quarta-feira, setembro 13, 2006 

Os "Tios" de Augusto Gomes (III) O "Tio" Amadeu (I)



O Tio Amadeu sentia especial predilecção em desfrutar os incautos, que longe estavam de supor o seu feitio pirracento.
Sem nunca ter saído desta ilha, sabia, por dedução, existir infalivelmente em qualquer Bairro ou Freguesia, uma Mercearia, Farmácia ou Barbearia.
E era assim, servindo-se deste estratagema, que explorava a ingenuidade dos interlocutores, com diálogos, mais ou menos, deste jaez:
-O senhor é de cá?
- Não senhor. Sou do Continente.
- É mesmo de Lisboa ?
- Não senhor, sou de Leiria.
- Ah!... Já lá estive!
- Já lá esteve? - Interrogava o outro, entre curioso e contente.
- Vivi lá uns anos... Em que rua morava o senhor?
- Na rua Comes Freire de Andrade.
- Não há lá uma Mercearia dum fulano chamado?... Tenho o nome debaixo da língua-simulava um desesperado apelo à memória.
- Pois há . É a Mercearia do Coutinho!
- Coutinho! Isso mesmo!... Parece que não que o estou vendo... Bom homem!... Éramos como irmãos.


E o diálogo só terminava quando o riso dos circunstantes lançava a desconfiança no interlocutor.

segunda-feira, setembro 11, 2006 

A cada um, o seu 11 de Setembro, na vida e na história

 

Escolhe o teu próprio 11 de Setembro.
Eu próprio costumo acrescentar três, ao de 2001:

  • 11 de Setembro de 1858 - Morte do historiador terceirense,
    Francisco Ferreira Drumond, aos 64 anos de idade, por congestão, na sequência de um banho de mar.

  • 11 de Setembro de 1891, em que se suicidou Antero de Quental, com dois tiros, "contra" a âncora da Esperança.

  • 11 de Setembro de 1973, com a morte de Salvador Allende,
    da democracia e da experiência do socialismo democrático no Chile,  pelas tropas de Pinochet.

  • Da Índia, vem-nos a notícia  de mais um.
    E com toda a razão e portunidade.

 

There were three 9/11s in history. The New York one of 2001. The neo-liberal one of Chile 1973, and the non-violent one of 1906 — Gandhiji's satyagraha in South Africa. The authors of all three tried to change the world. Two brought bloodshed, destruction, misery, and chaos. But the Mahatma's WMD — Weapon of Mass Disobedience — helped change the world for the better.

Source: The Hindu : Opinion / Leader Page Articles : Three 9/11s — choose your own

sexta-feira, setembro 08, 2006 

Duas Europas, também para os Imigrantes.

  •  A Europa dos "Imigrantes regularizáveis"
  • A Europa dos "Perpétuos clandestinos"

En Espagne, pays de l'Union européenne qui a reçu le plus d'immigrés au cours des dernières années, en raison notamment de son dynamisme économique, l'immigration massive arrive d'abord par les aéroports. Cette immigration n'est pas planifiée. En arrivant simplement avec des passeports en règle - et comme touristes -, ces étrangers-là ont pu, et pourront, sans trop de difficultés, bénéficier de l'une des mesures de régularisation prises par les gouvernements espagnols successifs, de droite puis de gauche. Parce qu'ils arrivent sans passeports, expliquent les associations humanitaires, les Noirs africains venus par cayucos n'ont d'autre destin que la clandestinité perpétuelle

Source: Le Monde.fr : Pathétique Europe

quarta-feira, setembro 06, 2006 

Os "Tios" de Augusto Gomes (II) : O Tio Francisco (II)

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Um belo dia, (o tio Francisco) resolveu, por sua iniciativa, encerar o
soalho.
Vai pois de o esfregar com petróleo,
seguidamente
espalhar a cera,
e, finalmente a operação mais estafante,
puxar o brilho.
Eis que então, entra um funcionário, que, embora
amigo do Tio Francisco, já várias vezes entrara em maré
de questiúnculas , por não se encontrar de acordo com o
tão discutido «pitafe».
Simulando espanto,
mira alternadamente o Tio Francisco e o soalho,
acabando por proferir:
-Mas isto o que é ?...
- ?!
- Está algum burro para morrer?
O Tio Francisco que notara as marcas das solas dos sapatos
do referido funcionário impressas no soalho
recentemente encerado, retorquiu:
- Estou a fazer o mesmo que a «labandeira» fez...
- ?!
- Apagar as pégadas do burrinho... quando Nossa Senhora fugiu com o «Menino Jasus» para o Egipto.

Dito isto, afastou-se calmamente, deixando o interlocutor atónito.

sexta-feira, setembro 01, 2006 

Os "tios" de Augusto Gomes (I) O Tio Francisco

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Excepcionalmente alto, direito que nem um fuso, bem proporcionado,
o Tio Francisco era servente do Quadro de Assalariados Eventuais da Base Aérea N.º4
Pachorrento, inteligente, e sobretudo «bem ensinado»,
era, como se costuma dizer, «um homem antigo», estimado
por todos os Superiores e colegas.
Morreu atropelado por uma viatura auto.
Pobre Tio Francisco!
Ele que era tão cauteloso!
Tinha para todos conselhos de prudência:
”Olhem vocês, que estes gajos são
capazes de "brabear" um «hóme» mesmo em riba de uma
parede”.
Enfim, coisas do destino...
O Tio Francisco embirrava solenemente com pressas.
As coisas haviam fazer-se no seu devido tempo.
Citava à laia de justificação:
«Nosso Senhor fez os dias todos iguais, para o que se não fizer num dia, ficar para o outro».

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