Ainda mais coragem...à Ramiro
Resposta a Marcelo Caetano
14.1.72
RADIOTELEVISÃO PORTUGUESA GABINETE DO PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Já passava das 9 horas da noite quando houve conhecimento no telejornal da nota da Direcção-Geral de Segurança acerca da bomba em Alcântara. Assim, foram escritas a correr as linhas do comentário que, ontem, foram lidas pelo locutor e que, na verdade, bem mais felizes deveriam ter sido. Dado a falta de tempo não pude ler -e ainda menos escrever aquele comentário. O telejornal tem sido objecto de cuidados constantes. Neste exacto momento, está a ser uma vez mais completamente reestruturado, embora o público se vá sobretudo aperceber das mudanças a efectuar pelo facto de o Mensurado ser substituído -amanhã mesmo pelo Pedro Moutinho que, com o Henrique Mendes, ficará a assegurar o essencial da locução. O problema da revisão das legendas dos programas que as tenham vai ser resolvido mercê de contacto a fazer com quem para tal tenha categoria e tempo bastantes.
Não é fácil, Senhor Presidente, encontrar pessoas para o telejornal. Algumas das que querem não interessam e as que nos conviriam ocupam funções mais cómodas e não as desejam abandonar. A gente mais nova não tem preparação bastante e, por isso, estou a procurar que a R. T. P. consiga formar os seus próprios quadros. Trata-se, porém, duma tarefa que não dará frutos a prazo muito curto mas apenas a longo prazo.
Essa uma das minhas esperanças, pois o que mais encontro são pessoas que querem ganhar muito dinheiro trabalhando o menos possível. Poderá dizer-se que se trata duma lei da vida, mas não deixará de poder pensar-se que, cada qual no respectivo plano e sector, tem necessidade de rectificar essas «tendências».
Não há jornalistas disponíveis. Trata-se duma classe sem desempregados. Aumentam as necessidades dos jornais e as agências de publicidade e relações públicas proliferam como os cogumelos. Aparecem e desaparecem mas vão utilizando, a preços inverosímeis, a «matéria cinzenta» disponível.
Ao referir este aspecto do problema tenho apenas na mente recordar algumas das dificuldades existentes. O Senhor Presidente tem-nas muito maiores e, por isso mesmo, não o quero aborrecer com as minhas. Mas estas nem por serem muito menores - cada qual no seu plano e nível - deixam de existir e ser, por vezes, muito vivas.
Estou aqui para as vencer. É o que intento fazer e creia, Senhor Presidente, que a essa tarefa me consagro totalmente e dou tudo quanto sei e posso. Talvez suceda é que saiba pouco e não possa muito. Disso será V. Ex.a O Juiz.
Aceite V. Ex. a os mais respeitosos e amigos cumprimentos do
Ramiro Valadão
14.1.72
RADIOTELEVISÃO PORTUGUESA GABINETE DO PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Já passava das 9 horas da noite quando houve conhecimento no telejornal da nota da Direcção-Geral de Segurança acerca da bomba em Alcântara. Assim, foram escritas a correr as linhas do comentário que, ontem, foram lidas pelo locutor e que, na verdade, bem mais felizes deveriam ter sido. Dado a falta de tempo não pude ler -e ainda menos escrever aquele comentário. O telejornal tem sido objecto de cuidados constantes. Neste exacto momento, está a ser uma vez mais completamente reestruturado, embora o público se vá sobretudo aperceber das mudanças a efectuar pelo facto de o Mensurado ser substituído -amanhã mesmo pelo Pedro Moutinho que, com o Henrique Mendes, ficará a assegurar o essencial da locução. O problema da revisão das legendas dos programas que as tenham vai ser resolvido mercê de contacto a fazer com quem para tal tenha categoria e tempo bastantes.
Não é fácil, Senhor Presidente, encontrar pessoas para o telejornal. Algumas das que querem não interessam e as que nos conviriam ocupam funções mais cómodas e não as desejam abandonar. A gente mais nova não tem preparação bastante e, por isso, estou a procurar que a R. T. P. consiga formar os seus próprios quadros. Trata-se, porém, duma tarefa que não dará frutos a prazo muito curto mas apenas a longo prazo.
Essa uma das minhas esperanças, pois o que mais encontro são pessoas que querem ganhar muito dinheiro trabalhando o menos possível. Poderá dizer-se que se trata duma lei da vida, mas não deixará de poder pensar-se que, cada qual no respectivo plano e sector, tem necessidade de rectificar essas «tendências».
Não há jornalistas disponíveis. Trata-se duma classe sem desempregados. Aumentam as necessidades dos jornais e as agências de publicidade e relações públicas proliferam como os cogumelos. Aparecem e desaparecem mas vão utilizando, a preços inverosímeis, a «matéria cinzenta» disponível.
Ao referir este aspecto do problema tenho apenas na mente recordar algumas das dificuldades existentes. O Senhor Presidente tem-nas muito maiores e, por isso mesmo, não o quero aborrecer com as minhas. Mas estas nem por serem muito menores - cada qual no seu plano e nível - deixam de existir e ser, por vezes, muito vivas.
Estou aqui para as vencer. É o que intento fazer e creia, Senhor Presidente, que a essa tarefa me consagro totalmente e dou tudo quanto sei e posso. Talvez suceda é que saiba pouco e não possa muito. Disso será V. Ex.a O Juiz.
Aceite V. Ex. a os mais respeitosos e amigos cumprimentos do
Ramiro Valadão