sábado, outubro 28, 2006 

Ainda mais coragem...à Ramiro

Resposta a Marcelo Caetano
14.1.72

RADIOTELEVISÃO PORTUGUESA GABINETE DO PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Já passava das 9 horas da noite quando houve conhecimento no telejornal da nota da Direcção-Geral de Segurança acerca da bomba em Alcântara. Assim, foram escritas a correr as linhas do comentário que, ontem, foram lidas pelo locutor e que, na verdade, bem mais felizes deveriam ter sido. Dado a falta de tempo não pude ler -e ainda menos escrever aquele comentário. O telejornal tem sido objecto de cuidados constantes. Neste exacto momento, está a ser uma vez mais completamente reestruturado, embora o público se vá sobretudo aperceber das mudanças a efectuar pelo facto de o Mensurado ser substituído -amanhã mesmo pelo Pedro Moutinho que, com o Henrique Mendes, ficará a assegurar o essencial da locução. O problema da revisão das legendas dos programas que as tenham vai ser resolvido mercê de contacto a fazer com quem para tal tenha categoria e tempo bastantes.
Não é fácil, Senhor Presidente, encontrar pessoas para o telejornal. Algumas das que querem não interessam e as que nos conviriam ocupam funções mais cómodas e não as desejam abandonar. A gente mais nova não tem preparação bastante e, por isso, estou a procurar que a R. T. P. consiga formar os seus próprios quadros. Trata-se, porém, duma tarefa que não dará frutos a prazo muito curto mas apenas a longo prazo.
Essa uma das minhas esperanças, pois o que mais encontro são pessoas que querem ganhar muito dinheiro trabalhando o menos possível. Poderá dizer-se que se trata duma lei da vida, mas não deixará de poder pensar-se que, cada qual no respectivo plano e sector, tem necessidade de rectificar essas «tendências».
Não há jornalistas disponíveis. Trata-se duma classe sem desempregados. Aumentam as necessidades dos jornais e as agências de publicidade e relações públicas proliferam como os cogumelos. Aparecem e desaparecem mas vão utilizando, a preços inverosímeis, a «matéria cinzenta» disponível.
Ao referir este aspecto do problema tenho apenas na mente recordar algumas das dificuldades existentes. O Senhor Presidente tem-nas muito maiores e, por isso mesmo, não o quero aborrecer com as minhas. Mas estas nem por serem muito menores - cada qual no seu plano e nível - deixam de existir e ser, por vezes, muito vivas.
Estou aqui para as vencer. É o que intento fazer e creia, Senhor Presidente, que a essa tarefa me consagro totalmente e dou tudo quanto sei e posso. Talvez suceda é que saiba pouco e não possa muito. Disso será V. Ex.a O Juiz.
Aceite V. Ex. a os mais respeitosos e amigos cumprimentos do
Ramiro Valadão

terça-feira, outubro 24, 2006 

Ainda...mais coragem à portuguesa (III)






























Estas três cópias reproduzem o texto manuscrito da resposta de Ramiro Valadão, então Presidente da RTP, ao solene raspanete de Marcelo Caetano, Presidente do Governo, por causa de um àparte do apresentador do telejornal da RTP à leitura de uma nota da Ex-Pide, Direcção Geral de Segurança, sobre um atentado em Alcântara.
Note-se que o àparte, no dizer do próprio Marcelo, nem foi crítico, nem desrespeitoso, nem negativo. Foi apenas "despropositado" ou inoportuno, segundo o juízo ministerial.
Apesar disso, nem sequer é indispensável conhecer o conteúdo da resposta de Ramiro Valadão para perceber o seu teor de desculpa, balbuciada, gaguejada, rasurada, recortada, emendada que o seu aspecto gráfico facilmente denuncia.
Por agora, fiquemo-nos pelo aspecto.
Mas garanto que o seu conteúdo não é menos atento, venerador e obrigado.
Já o veremos, a seguir.

domingo, outubro 22, 2006 

Ainda... mais coragem à portuguesa (II)


A última entrada com este título está "pendurada" no blogue há mais de uma semana, apenas como consequência da pausa "bloguística, que senti necessidade de fazer por estes dias outonais.

É possível, porém, que alguém não tenha percebido com facilidade, nem mesmo no olhar demorado de uma semana, a ligação entre o título e o texto de Marcelo Caetano.
Tanto mais que a singular coragem ... à portuguesa, a que o título faz referência está principalmente na resposta do "Meu Caro Valadão", então Presidente da RTP, do que no texto do próprio Marcelo.
Mas a resposta daquele, ainda vai ficar para a entrada seguinte.
A verdade, porém, é que o texto do próprio Marcelo tem, em si mesmo, suficientes manifestações daquilo que, eufemisticamente, se pode apodar de (um certo tipo de) coragem à portuguesa.
Em primeiro lugar, a coragem reiterada do Presidente do Conselho de lembrar repetidamente ao Presidente da RTP que a principal função do telejornal é servir o governo e não informar os espectadores.
Em segundo lugar, neste contexto de um telejornal para papaguear notas da Direcção Geral de Segurança, a coragem de vir falar em "negação do jornalismo televisivo".
É preciso, realmente, ter... muita coragem!
Provavelmente, a única manifestação de "jornalismo televisivo" autêntico que ocorreu naquela noite "jornalística"de leitura da nota da DGD sobre um atentado bombista, foi o àparte do jornalista que ficou cravado na garganta de Marcelo!
Anote-se, ainda, a coragem do juízo de Marcelo sobre a "capacidade interpretativa" dos portugueses!
Mais uma vez, enganou-se sobre os portugueses.
Os portugueses, na altura, (1972) é que se iludiam, cada vez menos, sobre Marcelo!

quinta-feira, outubro 12, 2006 

Ainda mais...coragem à portuguesa (I)

marcelotelejornal 1
Presidência do Conselho        14.1.72


Gabinete do Presidente



Meu caro Valadão


Já mais de uma vez tenho pedido a sua atenção para o telejornal.
O comentário ontem acrescentado à nota da Direcção-Geral de Segurança era, decerto, muito bem intencionado:
mas era também a negação do jornalismo televisivo.
«Os bombistas é que têm razão», dito para os milhões de ouvintes, na enorme maioria incapazes de subtilezas interpretativas, é de uma falta total de inteligência e senso.
Depois... o irritante «enquanto isto»... já nem chegou a
irritar-me. Todas as noites tenho esperança de que haja alguém
na RTP com gosto pela língua portuguesa que ponha termo a
tais aleijões. Mas não há.
Um abraço de
Marcelo Caetano

domingo, outubro 08, 2006 

Mais Coragem...à portuguesa

Ainda com ligação à "Aventura da Moraes",
mais um exemplo elucidativo da coragem... à portuguesa
desses tempos... bem à portuguesa vividos.



Trata-se de um despacho de apreensão pela PIDE,
da tradução do livro de Georges Bataille "L'Erotisme",
feita por sugestão de um leitor,
devidamente identificado pelo nome de Joaquim Palhares.
As razões que fundamentam a apreensão parecem-nos, hoje,
de natureza tão próxima do primarismo "talibã", que diriamos
vindas do fundo dos tempos.
Embora a data real, nem seja muito distante.
É apenas de 29/9/1966.
Somente 40 primaveras, há menos de um mês, comemoradas!

sexta-feira, outubro 06, 2006 

O medo "made" in USA

Há quem tenha conseguido resumir toda a História dos Estados Unidos, com base nesse impulso primário do Medo.
Este projecto de muro contra o México é mais uma dessas manifestações do "complexo de fortaleza" que, regularmente, assalta as mentes e a sociedade americana.






Mexico dénonce le projet de mur des Etats-Unis


0610070

A travers les trous dans le mur de séparation déjà existant, deux Mexicains observent les mouvements d’une patrouille de surveillance à la frontière entre les Etats-Unis et le Mexique, à Tijuana, en janvier 2006. OMAR TORRES/AFP


Le Congrès veut édifier une frontière de béton de 1 120 km


Journal Electronique


quarta-feira, outubro 04, 2006 

Coragem...à portuguesa





Lembro-me muitas vezes, de uma história que António Alçada Baptista contava.
Alguém lhe telefonou dizendo que ele não tinha o direito de ter abandonado "O Tempo e o Modo”.
António Alçada respondeu:
“Bom, também não sei com que direito é que você me está a dizer isso.
Porque você não assinou “O Tempo e o Modo” e muitas vezes me disse que não gostava da Revista.
Portanto, porque é que eu não tinha o direito?”
- “Ah! não me diga isso, que me está a pôr um problema de consciência!”
E António Alçada respondeu-lhe:
“Não tenha problemas de consciência, que eu também não tenho”.
Lembro-me também da história do chamado manifesto dos 101 (cento e um foi o maior número de católicos que se reuniu para um manifesto desta natureza) publicado em 1965, durante os anos da Revista.
Alguém telegrafou também a António Alçada Baptista dizendo:
“Felicito-vos pela vossa coragem!”
E assinava:
“Um anónimo do Porto”.



Éramos assim em Portugal nessa altura.
Eram estes os combates.
E é entre esta mitificação ou esta realidade que hoje aqui deixo o meu testemunho.



(Texto adaptado da intervenção oral do Autor, João Bénard da Costa, no colóquio dos 40 anos
de “O Tempo e o Modo” na Fundação Gulbenkian)

segunda-feira, outubro 02, 2006 

Entre nós, há quem pense que mais vale jogar aos berlindes que votar.

Na Gâmbia, junta-se o útil ao agradável.
Vota-se com berlindes.


Uma votação com berlindes a sério










O eleitorado da Gâmbia reelegeu o Presidente Yahya Jammeh para um terceiro mandato com 67,3% dos votos

Tambor das eleições da Gâmbia

BCParaAfrica.com

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