Coragem...à portuguesa
Lembro-me muitas vezes, de uma história que António Alçada Baptista contava.
Alguém lhe telefonou dizendo que ele não tinha o direito de ter abandonado "O Tempo e o Modo”.
António Alçada respondeu:
“Bom, também não sei com que direito é que você me está a dizer isso.
Porque você não assinou “O Tempo e o Modo” e muitas vezes me disse que não gostava da Revista.
Portanto, porque é que eu não tinha o direito?”
- “Ah! não me diga isso, que me está a pôr um problema de consciência!”
E António Alçada respondeu-lhe:
“Não tenha problemas de consciência, que eu também não tenho”.
Lembro-me também da história do chamado manifesto dos 101 (cento e um foi o maior número de católicos que se reuniu para um manifesto desta natureza) publicado em 1965, durante os anos da Revista.
Alguém telegrafou também a António Alçada Baptista dizendo:
“Felicito-vos pela vossa coragem!”
E assinava:
“Um anónimo do Porto”.
Éramos assim em Portugal nessa altura.
Eram estes os combates.
E é entre esta mitificação ou esta realidade que hoje aqui deixo o meu testemunho.
(Texto adaptado da intervenção oral do Autor, João Bénard da Costa, no colóquio dos 40 anos
de “O Tempo e o Modo” na Fundação Gulbenkian)