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quinta-feira, novembro 16, 2006 

Coragem, Coragem mesmo... à antiga portuguesa


A melhor maneira de terminar esta meia dúzia de entradas sobre caricaturas da coragem à portuguesa, é fazê-lo com uma atitude verdadeiramente corajosa do grande escritor Ferreira de Castro.
Hoje, o seu nome parece quase esquecido.
Mas não o merece.
Nem como escritor, nem como homem.
A atitude que a carta seguinte documenta bem o demonstra
:

Lisboa, 11 de Novembro de 1971


Exmo Senhor Director:

Numa entrevista com o Dr. Eduíno de Jesus, publicada hoje no Diário de Notícias" o meu nome é citado entre aqueles escritores que já foram entrevistados pela Televisão Portuguesa. Trata-se duma involuntária confusão.
Realmente, há dois ou três anos, estando eu nas Caldas das Taipas, recebi do meu colega de letras Mário Dias Ramos, uma carta muito gentil, pedindo-me uma entrevista para aquele organismo.
Mas eu declinei o convite.
Meses depois, Jorge Amado passou em Lisboa e fui visitá-lo a bordo.
Estava lá uma equipa da Televisão e o Dr. Gomes Ferreira, nessa época locutor, pediu-me também uma entrevista, desta vez em conjunto com aquele grande romancista brasileiro.
Recusei igualmente.
E só depois de muitas horas de insistência -- e digo "muitas horas" porque a referida equipa passou quase o dia inteiro connosco -- eu acedi a aparecer em homenagem a Jorge Amado, a conversar com ele, durante alguns segundos, como simples nota de reportagem, conforme o último pedido que me fez o Dr. Gomes Ferreira.
E foram, julgo eu, essas imagens que levaram o escritor Eduíno de Jesus, por quem tenho, aliás, muito apreço, à confusão a que já me referi.
Essas ou outras que me disseram haver sido projectadas na Televisão Portuguesa, quando me deram um prémio em Nice,
Pouco tempo depois, passando eu em frente duma livraria da Lisboa,
vi romper, lá de dentro, um grupo de operadores, com as máquinas já a filmarem-me e o microfone direito à minha boca: “Ainda bem que o encontramos! Queríamos ouvir a sua opinião sobre…”
Não os deixei terminar e pedi-lhe que inutilizassem as imagens já tomadas.
Este ano, telefonaram da Televisão para minha casa, perguntando
a que horas sairia para França no dia seguinte, por causa do prémio da Latinidade, pois desejavam filmar a partida.
Em virtude de tudo isso, resolvi telefonar ao próprio director da
Televisão, o Dr. Ramiro Valadão, que não conheço pessoalmente.
E, explicando-lhe as razões do meu procedimento, disse-lhe que não desejava aparecer na televisão e pedi-lhe que fosse atendido esse meu desejo.
Por quê esta atitude, que parece tão facciosa?
A verdade é que as imagens e os nomes da grande maioria dos escritores portugueses, inclusivamente o grande Aquilino Ribeiro, foram, durante anos e anos, sistematicamente suprimidos pela Televisão de Portugal.
Sem dúvida alguma por ordens recebidas, os operadores chegavam
aos grupos onde nos encontrávamos e as suas máquinas entregavam-se a descriminações, por vezes a autênticos malabarismos, para que as nossas imagens de réprobos não tossem filmadas
.
Nós sorríamos. Mas era vexatório, era profundamente humilhante.
Ora eu penso que, junto com a dignidade humana, há a dignidade profissional.

E que se deve respeitar a dignidade não só dos escritores, mas de toda a gente.
E que ninguém deve ser excluído pela sua forma de pensar, tanto mais ser lugar-comum na História que algumas ideias consideradas péssimas, foram tidas, no futuro, como excelentes.
É claro que eu entendo ser inteiramente compreensível que os escritores nunca atingidos por tais descriminações concedam entrevistas à Televisão ou que, mesmo um dia atingidos, pensem que assim será melhor para a difusão das suas próprias ideias. Por outro lado, é absolutamente legítimo que outros escritores não tenham querido ser entrevistados.
Quanto à minha atitude, que só trago a público porque o meu nome foi citado, ela nada tem a ver com aqueles que trabalham na Televisão. Se tivesse, eu seria injusto, pois não lhes pertence a culpa do que sucedeu quando esse organismo votava inexoravelmente ao silêncio os escritores considerados oficialmente indesejáveis.
Com antecipados agradecimentos pela publicação destas linhas,
Saúdo-o, Sr. Director, muito cordialmente.

Ferreira de Castro

Convite

Decorrerá de 23 de Novembro a 2 de Dezembro, no Edifício Novo do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, sito ao Pico da Urze, junto ao Palácio de Santa Catarina, a exposição fotográfica Arcos d’Água da autoria de Cristina Oliveira-Brasil, autora do blog Lâmina d’Água, de Vasco Oswaldo Santos-Canadá, autor do blog Escriba e Maria de Deus Moreira – São Miguel, autora do blog Sentimentos.
A inauguração da exposição ocorrerá pelas 20:00 h do dia 23 de Novembro e contará com a presença física dos seus autores.
Venho por este meio, convidar-te, a ti e à tua família para estarem presentes. Será uma honra contar com a presença dos bloguistas Terceirenses na sessão da abertura.
Esta exposição surge exactamente da interacção e disponibilidade demonstrada na blogosfera.

Cumprimentos:

Félix

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