Os "Tios" de Augusto Gomes(VI) O tanoeiro (I)
Foi assim que, na Vila de Santa Cruz da Graciosa,
surgiu a notícia da nomeação de determinado cavalheiro,
nado e criado naquele pacato burgo,
para o cargo de Administrador do Concelho.
E como santos de casa não fazem milagres,
logo choveram os comentários, as críticas, e os dichotes,
tanto mais, que o nomeado não primava pelos dotes de inteligência,
sendo voz corrente, dever-se tal nomeação, única e simplesmente, a influências políticas.
Foi então que um velhote, instalado com tanoaria na referida vila,
com fama de homem de espírito,
do qual se contavam façanhas jamais esquecidas,
apostou que chamaria burro ao empossado.
Assim, dirigindo-se à residência do novo Administrador,
solicitou-lhe audiência,
no que foi prontamente atendido pelo mais alto funcionário do Concelho,
ansioso de entrar no pleno uso das suas funções.
- Venho apresentar a V. Ex.ª as minhas felicitações
pela sua nomeação.
O felicitado, sorrindo de gozo, respondeu:
-Pois fique o mestre sabendo, que não é caso para tanto,
e ainda lhe digo mais, se aceitei o cargo,
deve-se ao facto de ter sido deveras instado.
-Acredito - retorquiu o tanoeiro -
Mas acho que a escolha não poderia ter sido melhor,
porque se havia de vir algum burro de fora,
ficou V. EXª que é cá da terra...